Uma descoberta feita por cientistas do IRCM e da Universidade da Pensilvânia leva a uma melhor compreensão do papel do citoesqueleto no distúrbio neurológico dos movimentos do espelho.
Uma equipe de cientistas canadenses e americanos fez um avanço promissor na compreensão das origens de um misterioso distúrbio neurológico conhecido como movimentos de espelho.
A descoberta foi feita por Kaiyue Zhang, doutoranda no Montreal Clinical Research Institute (IRCM), afiliado à Université de Montréal, e por Karina Chaudhari, doutoranda na Universidade da Pensilvânia.
Como co-autores, publicaram hoje o seu estudo na revista Science Signaling.
Eles foram liderados por Frédéric Charron, professor pesquisador da UdeM e diretor da unidade de pesquisa de biologia molecular de desenvolvimento neuronal do IRCM, em colaboração com a equipe de Greg Bashaw na Universidade da Pensilvânia.
O distúrbio do movimento do espelho é um distúrbio neurológico hereditário pouco compreendido que se manifesta em movimentos involuntários desde tenra idade, principalmente nos braços e nas mãos.
Nas pessoas afetadas, a mão direita reproduz involuntariamente os movimentos da esquerda e vice-versa. O distúrbio pode causar dor nos braços durante atividades prolongadas e dificuldades na execução de tarefas que exijam coordenação esquerda-direita.
“O distúrbio do movimento do espelho perturba a vida diária dos indivíduos afetados”, disse Charron, que também é professor adjunto na Universidade McGill. “Ações simples como abrir uma garrafa de água podem se tornar difíceis, assim como tocar um instrumento musical”.
Um defeito em um fenômeno
O mecanismo celular por trás dos movimentos do espelho é um defeito em um fenômeno conhecido como orientação do axônio.
Durante o desenvolvimento embrionário, os neurônios estendem seus axônios, um longo cabo celular que lhes permite ligar áreas específicas do corpo, estabelecendo assim conexões nervosas.
O conjunto de processos que controlam o alongamento do axônio e orientam sua navegação é denominado orientação do axônio. Entre outras coisas, a orientação do axônio conecta cada neurônio ao seu alvo específico. É, portanto, crucial para o bom desenvolvimento do sistema nervoso.
Várias moléculas de orientação direcionam os axônios para seus alvos, agindo como placas de sinalização para guiar os axônios até seu destino. Para fazer isso, essas moléculas de orientação devem induzir o movimento do axônio quando são detectadas pelos axônios.
Este movimento requer uma maquinaria molecular complexa que ainda é pouco compreendida.
No novo estudo, os investigadores mostraram que a maquinaria necessária para a orientação é na verdade o citoesqueleto, um esqueleto microscópico que confere à célula uma certa rigidez, semelhante aos ossos do corpo que, através da sua rigidez, permitem o movimento.
Compreender os mecanismos que causam o movimento do espelho é fundamental para encontrar maneiras de tratá-lo. O trabalho do laboratório Charron promete novos alvos nesse sentido, bem como para outras doenças resultantes de defeitos no desenvolvimento do sistema nervoso.
Sobre este estudo
“Uma variante humana do DCC que causa distúrbio do movimento do espelho revela que o complexo regulador WAVE medeia a orientação do axônio pela netrina-1-DCC”, por Kaiyue Zhang, Karina Chaudhari et. al, foi publicado em 1º de outubro de 2024 na Science Signaling. As equipes de pesquisa de Myriam Srour, do Hospital Infantil de Montreal, Junmei Wang, da Universidade de Pittsburgh, e Baoyu Chen, da Universidade Estadual de Iowa, também contribuíram para este trabalho. O financiamento foi fornecido pelos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde (CIHR), pelo projeto Neurobasis da Fundação Canadense para Inovação (CFI), pelo Fonds de recherche du Québec – Santé (FRQS), pelo China Scholarship Council (CSC), pelo National Science Fundação (NSF) e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH). Frédéric Charron ocupa a Cátedra de Pesquisa do Canadá em Neurobiologia do Desenvolvimento.